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Pesquisadores da Unip estudam usina de ondas no Porto

- 03 de junho de 2015 2366 Visualizações
Pesquisadores da Unip estudam usina de ondas no Porto
A fim de ampliar a oferta de energia no Porto de Santos, pesquisadores do Campus Santos da Universidade Paulista (Unip) estudam a utilização das ondas do mar e do movimento da maré na região, como fonte para a geração de eletricidade. A ideia é inspirada na primeira usina do gênero da América Latina, instalada no Porto de Pecém, no Ceará.
A possibilidade de explorar novas fontes energéticas é estratégica para o Porto, especialmente neste momento, quando a Secretaria de Portos da Presidência da República (SEP) planeja a implantação de novos terminais marítimos no complexo.
Atualmente, a eletricidade que abastece o cais santista é proveniente da Usina Hidrelétrica de Itatinga, de propriedade da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp, a Autoridade Portuária de Santos), e das distribuidoras Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) Piratininga e Elektro Eletricidade e Serviços S/A. Até o final do século passado, a usina conseguia atender a demanda do cais. Mas com o crescimento das operações e o surgimento de novos terminais, houve a necessidade de o complexo receber energia das concessionárias que servem a região.
É esse o cenário analisado pelos pesquisadores da Unip, que se formaram em Gestão Portuária pela universidade no ano passado. O tema começou a ser explorado no trabalho de conclusão de curso do grupo, que retornou à instituição para dar continuidade ao projeto. A iniciativa foi abraçada pelo corpo de professores, que quer aprofundar a questão.
Integrante da equipe de pesquisa, Verônica Inchaspe, de 44 anos, explica que o projeto não propõe substituir as fontes hoje utilizadas, mas avaliar a possibilidade de complementá-las, de modo que as instalações sejam abastecidas por redes principais e alternativas. “Temos que aproveitar o que nossa região oferece. Não temos vento suficiente para fazer a propulsão das pás eólicas, mas temos ondas capazes de gerar a energia de que precisamos”, afirma a gestora portuária. 
Segundo Verônica, a exploração das ondas e da maré não será suficiente para manter a operação dos terminais, especialmente os de contêineres. No entanto, é capaz de atender a demanda dos prédios administrativos, que já exploram energias alternativas, como a solar, obtida a partir de células fotoelétricas.
Os equipamentos para a geração de energia a partir do mar podem ser instalados em píeres ou trechos de cais que não sejam utilizados para a navegação ou a atracação de navios. E, no futuro, eles podem ser remanejados para outros espaços, uma vez que sua estrutura é móvel.
Além de Verônica, integram o grupo de pesquisa os gestores portuários Leandro Dias, Sérgio Oliveira Raika Andrade e Diane Sampaio. 

Como funciona
Conforme a pesquisa, a usina de ondas pode ser construída em módulos. Isso permite que ela seja ampliada de acordo com o aumento da demanda. 
Cada parte da usina de ondas é constituída por uma bacia flutuante (que fica na linha d'água, no mar), um braço mecânico (que vai se movimentar para cima e para baixo) e uma bomba hidráulica, conectada a um circuito de água doce (em solo). Juntos, eles são capazes de gerar energia para as proximidades. 
A movimentação permite que as bombas em solo sejam acionadas sem qualquer troca de líquido com o ambiente ou emissão de poluentes. A água doce, sob efeito de pressão, vai para um acumulador com água e ar compridos, capazes de transformar o movimento em eletricidade. 
 
Em Pecém
A Usina de Ondas está localizada no quebra-mar do Porto de Pecém, a 60 quilômetros de Fortaleza (CE). Ela foi construída em 2012, a partir de um projeto de senvolvido pela Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Os equipamentos, segundo dados oficiais, são capazes de gerar entre 50 e 100 quilowatts (KW) para abastecer o porto, o principal daquela região. Sua implantação representou um investimento de R$ 18 milhões, custeado pela iniciativa privada. Mas o empreendimento foi interrompido, 
Os pesquisadores da UFRJ, no entanto, iniciaram um projeto semelhante na costa do Rio de Janeiro, pela metade do preço. A capacidade de geração seria a mesma que a da unidade de Pecém.

Integração
O professor de Logística e Gestão Portuária Gilberto Alves Filgueira é o responsável por orientar o estudo sobre a usina de ondas do Porto de Santos. Além de considerar a proposta viável economicamente, ele defende que a estrutura seja integrada ao projeto de expansão do complexo marítimo, com a construção de terminais de águas profundas na entrada Baía de Santos, o Santosvlakte.
Mas essa integração ocorreria apenas em um segundo momento. Segundo Filgueira, no começo, em uma fase de testes, o recomendado é que a usina seja instalada no estuário, nos píeres existentes. O fato de o canal de navegação ser uma área mais abrigada do que a costa não afetaria o projeto. “A geração (de energia) funciona a partir da movimentação das ondas e da maré. Dentro ou fora do Canal, nós temos bastante”, afirma.
Após os exames, em uma segunda etapa, a usina poderá ser implantada nos terminais do Porto planejados para alto-mar, previstos no projeto conhecido como Santosvlakte (ou Santos 2). Esse empreendimento visa ampliar a capacidade do complexo marítimo para receber grandes navios, com a construção de instalações na entrada da Baía de Santos, na costa da Ilha de Santo Amaro, em Guarujá. 
O nome do projeto é uma referência à Maasvlakte, a área de expansão do Porto de Roterdã, na Holanda, o principal complexo marítimo do Ocidente. Para conseguir mais espaço para operações, a autoridade portuária holandesa aterrou uma área do Mar do Norte e ali ergueu seus novos terminais.
 
Local
De acordo com o professor, “a geração de energia (a partir das ondas e da maré) poderia ocorrer ali mesmo, nos píeres que estarão em mar aberto. Nesse local, temos ainda mais interferência das ondas e, consequente, maior produção”. 
A implantação do projeto da usina deve levar cerca de 20 anos, prazo semelhante ao estimado para a construção do Santosvlakte. 
Na semana passada, esse projeto de expansão do Porto foi debatido no Simpósio Preparatório para a Pianc/Copedec 2016, evento realizado na Cidade e que adiantou os temas a serem discutidos na Conferência de Engenharia Portuária e Costeira em Países em Desenvolvimento (Copedec), a ser realizado em outubro do ano que vem, no Rio de Janeiro. Segundo pesquisadores presentes ao simpósio, a construção desses terminais de águas profundas é viável e pode contar com ações sustentáveis, como a implantação da usina de ondas.