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Caminho está aberto para empreiteiras estrangeiras

Massa Cinzenta - 23 de fevereiro de 2015 2628 Visualizações
Caminho está aberto para empreiteiras estrangeiras
Com as maiores empreiteiras do país envolvidas no escândalo da Operação Lava-Jato, uma questão que entrou no debate do setor da construção civil é se a abertura de mercado para empresas estrangeiras não seria salutar ao Brasil. Um dos principais defensores desta tese é o professor do departamento de administração da FEA USP, Paulo Roberto Feldmann. Para ele, três motivos já seriam suficientes para que construtoras internacionais passassem a disputar licitações de obras públicas no país: a chance de tirar do atraso a infraestrutura nacional, contratos mais baratos e a entrada de novas tecnologias, equipamentos e sistemas construtivos. “Haveria competição. Hoje há muita acomodação no setor. O dia que houver competição elas vão ter que se desenvolver tecnologicamente para enfrentar as estrangeiras”, avalia.
 
Paulo Roberto Feldmann: entrada de construtoras estrangeiras tende a baratear obras.
Paulo Roberto Feldmann explica que, ao contrário do que se pensa, a lei 8.666 (Lei das Licitações) não impede nem dificulta a entrada de construtoras estrangeiras. O problema, segundo ele, é uma espécie de cartel do setor. “As empreiteiras brasileiras exigem de quem promove a licitação que coloque cláusulas no edital que dificultam a participação das estrangeiras. Por exemplo, inclui-se a seguinte cláusula: só pode participar da presente licitação quem apresentar pelo menos 20 obras realizadas no Brasil. Acabou. Ao colocar uma cláusula destas, mata as estrangeiras. Então, o problema não é a lei, mas o fato de que as empreiteiras brasileiras fazem, ou pelo menos faziam, o edital de licitação junto com o governo federal, com os governos estaduais e com as estatais, impondo cláusulas de barreira às estrangeiras”, analisa.

Gigantes de R$ 30 bilhões
O professor Paulo Roberto Feldmann entende também que a abertura do mercado brasileiro da construção civil para multinacionais do setor passa pelos desdobramentos da Operação Lava-Jato e pelas mudanças nas regras de financiamento para campanhas políticas. “Será difícil mudar, enquanto as empreiteiras estiverem contribuindo com campanhas eleitorais de deputados, senadores, governadores e presidente. Se a Operação Lava-Jato impor punições severas, e isso influenciar na reforma política, aí sim haverá mudanças”, cita, lembrando que o sistema atual prejudica o país. “Concorrência resulta não apenas em preços mais baixos para o governo, mas também em melhor qualidade nos serviços prestados e na busca, pelas empresas concorrentes, das melhores e mais avançadas tecnologias à disposição no mundo”, completa. O mesmo trecho, Feldmann enunciou no artigo “Chega de choradeira: não devemos temer punir as empreiteiras”, escrito para a revista Época.
As grandes empreiteiras brasileiras atuam nos Estados Unidos, em outros países sul-americanos, assim como na África, na Europa, no Oriente Médio e em várias nações asiáticas. Em 2014 – segundo ranking da revista O Empreiteiro -, Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e OAS tiveram receita bruta de R$ 30,07 bilhões. Equivale a quase 50% de tudo o que as 25 maiores empresas do setor arrecadaram no ano passado (R$ 60,5 bilhões). Por essas cifras dá para se ter ideia de quão fortes se tornaram essas empresas. Por isso, analistas avaliam que a Lava-Jato poderá pulverizar esses lucros, fazendo com que, não apenas as construtoras estrangeiras, mas também as empreiteiras médias do Brasil, passem a ser protagonistas nas grandes obras nacionais.
 
Entrevistado
Engenheiro civil, mestre e doutor em administração, Paulo Roberto Feldmann. Autor de três livros, atualmente é professor do departamento de administração da FEA USP.
Contato: feldmann@usp.br
Crédito foto: Divulgação/USP
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330