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Zika expõe a hipocrisia da política do saneamento

Nildo Carlos Oliveira - 02 de março de 2016 1047 Visualizações
Zika expõe a hipocrisia da política do saneamento
Então é isso, caros amigos: o governo está fazendo marketing com a desgraça devastadora provocada pelo vírus da zika. O primeiro escalão aparece vestido de branco com o dístico no peito: “Zika zero”. Pena que esse desfilar de ministros, para acelerar a mobilização contra o mosquito, venha sempre tarde. - Embora nunca seja tarde para se corrigir um erro, mesmo que este haja se aprofundado nas entranhas da miséria do país, durante anos a fio.
E, durante anos a fio, o governo, em suas várias instâncias e com raras exceções, tem relegado o saneamento a plano secundário. As metas, reiteradamente anunciadas, nos diversos planos que têm sido divulgados, jamais foram cumpridas. Obras enterradas evidentemente não proporcionam visibilidade, conquanto sejam cruciais para a saúde da população.
A mazela acaba de ser exposta em estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ele salienta que a universalização dos serviços de saneamento básico, compreendendo coleta de esgoto e de obras na rede de abastecimento de água, só deverá ser alcançada no Brasil em 2050. Ora, para um país esquálido, sem saúde pública satisfatória, com os hospitais abarrotados de pacientes sem perspectiva de receber cuidados médicos mínimos, esse horizonte está cada vez mais distante. É uma linha de chegada que eles dificilmente cruzarão.
Pelos dados analisados, o país levará mais quatro décadas até atingir a meta do Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), de universalizar os serviços de coleta e tratamento de esgoto e de abastecimento.
Para universalizar aqueles serviços, conforme a meta inicialmente prevista, que era até 2033, o Brasil precisaria elevar o volume de recursos, com esse fim, de R$ 7,6 bilhões/ano, para R$ 15,2 bilhões/ano. Ora, nem sequer com as verbas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), ele vinha conseguindo aumentar tais recursos. É justo inferir, portanto, que continuaremos entregues à sanha do mosquito e de outros males ocasionados pela descaso no saneamento.
Dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) mostram que o país teria, atualmente, 48,6% de coleta de esgoto. Mas esses números não dizem tudo. Se observada as diferenças por região, a situação se complica. Por exemplo: se, no Sudeste, o índice daquele serviço alcança 77,3%, no “Norte chega a apenas 6,5%”. E, tal disparidade aflora, de modo pungente, nas grandes metrópoles. Na Grande São Paulo enxameiam canais de esgoto a céu aberto. No fundo, os números exibem descaso. E, o descaso tem deixado campo aberto para a proliferação do Aedes Aegypti e seus desdobramentos.
O governo certamente culpará a crise, da qual ele é o principal culpado. Mas ele a atribuirá a outros fatores, tentando jogar poeira nos olhos da população, deixando entregue às urtigas as atividades que podem criar e preservar empregos. Por exemplo, a construção civil já perdeu 715 mil empregos no biênio 2014-2015, sem falar, conforme salienta o Sinduscon-SP, nas estimativas de 200 mil demissões nestes primeiros dias de 2016. Daí, é natural a indagação: Para onde vamos? É justo fazer marketing a partir desses males, sobretudo os causados pelo vírus da zika?
 
Notas
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- O livro O mestre da arte de resolver estruturas – a história do engenheiro Bruno Contarini – de autoria do escrevinhador deste blog, será lançado dia 7 de março, no Rio de Janeiro, na livraria Da Travessa, Shopping Leblon. Deverão estar presentes amigos e admiradores do engenheiro, hoje com 82 anos e cuja trajetória profissional tem sido um exemplo ao longo de décadas.
- A Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas (Apeop) anuncia a retomada do plano de concessão de aeroportos regionais em São Paulo. É bom lembrar: o plano estava em curso há cerca de dois anos, quando o governo federal resolveu embargá-lo. A retomada se dá, segundo a entidade, “simultaneamente à decisão do governo federal de autorizar a extensão das concessões de aeroportos regionais a outros estados – Bahia, Minas gerais, Goiás e Amazonas...”
- O jornal FSP acaba de divulgar que o governo Geraldo Alckmin está preparando o terreno para instalar 25 novos pedágios em estradas do litoral e do interior do Estado. Usuários das estradas paulistas reconhecem o benefício proporcionado pelas concessionárias de rodovias no Estado. Invariavelmente essas rodovias são reconhecidas como as melhores e mais funcionais do país. Mas, o preço dos pedágios, em épocas de vacas magérrimas, está contribuindo para o desespero dos cidadãos, já esgotados por impostos, taxas e falta de emprego.
 
Frase de destaque
“A construção está fazendo sua parte na elevação da produtividade da mão de obra e dos processos construtivos. Um esforço do setor público na mesma direção, poderá antecipar para 2018 a recuperação prevista para 2020”. Da coluna “Janela”, do Sinduscon-SP. – O aviso está dado.