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Um olhar sobre a África

BBC - de Londres - 11 de julho de 2013 1497 Visualizações
Um olhar sobre a África
 
O governo e algumas grandes empresas brasileiras estão apostando alto na abertura de novas fronteiras no mercado africano. Nos últimos anos, o Brasil ampliou sua presença econômica tanto na África lusófona – principalmente Angola e Moçambique quanto na África do Sul (considerada um dos “mercados maduros” da região, junto com países do Norte africano).
Elas acompanham um movimento de algumas grandes empresas brasileiras, que há algum tempo estão prospectando novos negócios em países que até pouco eram sinônimo de conflitos e extrema pobreza, atraídas principalmente por oportunidades nos setores de infraestrutura e exploração de recursos naturais.
Segundo Cordeiro, é nesses planos de expansão que se inseriria a decisão anunciada recentemente pela presidente Dilma Rousseff de cancelar ou renegociar de US$ 900 milhões (R$ 1,9 bilhão) em dívidas de países africanos com o Brasil.
Interesses comerciais
As trocas comerciais entre Brasil e África passaram de US$ 5 bilhões em 2002 para US$ 26,5 bilhões em 2012.
E de acordo com a consultoria Ernst & Young, embora o Brasil represente apenas 0,6% dos investimentos estrangeiros nos 54 países africanos, desde 2007 os aportes brasileiros cresceram 10,7% ao ano.
- O empresariado brasileiro está começando a descobrir a África: as construtoras foram pioneiras nesse mercado e agora estão ajudando a ‘puxar’ outras empresas – disse à BBC Soraya Rosar, diretora de Negociações Internacionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
- Mas ainda há relativamente poucos investimentos em manufatura. Nisso estamos ficando para trás de chineses e indianos.
A Petrobras tem ativos na Nigéria, Tanzânia e Namíbia.
A Vale entrou na África em 2004 e hoje está presente no Gabão, Libéria, Guiné, República Democrática do Congo, Zâmbia, Malauí e África do Sul (além de Angola e Moçambique) – tendo planos para investir US$ 7 bilhões (R$15 bilhões) no continente nos próximos anos.
Fora da comunidade lusófona, a construtora baiana OAS já tem sucursais em Guiné, Gana e Guiné Equatorial. A Odebrecht está presente nesses mesmos países e na Libéria e na Líbia (onde a Camargo Correa também já toca uma série de projetos).
- Temos ainda algumas experiências de empresas de menor porte: desde uma empresa do Pará que está participando de obras em Benin, até um agricultor do Ceará que em parte do ano planta melão no Senegal para manter sua linha de exportação para a Europa – diz Cordeiro.
É nesses planos de expansão que se inseriria a decisão anunciada recentemente pela presidente Dilma Rousseff de cancelar ou renegociar de US$ 900 milhões (R$ 1,9 bilhão) em dívidas de países africanos com o Brasil, segundo Cordeiro,
Riscos
É claro que os riscos e custos de se fazer negócios em muitos desses países ainda são importantes.
Problemas como corrupção, instabilidade política, precariedade logística e pobreza extrema não desapareceram do continente africano de uma hora para outra – ao contrário do que relatórios entusiasmados de algumas consultorias de negócios – ou os discursos de algumas autoridades brasileiras – podem fazer parecer.
Por causa de mudanças políticas na Guiné, por exemplo, a própria Vale foi obrigada a renegociar seus contratos para a exploração do complexo de Simandou, considerada a maior reserva inexplorada de minério de ferro do planeta. O projeto ficou paralisado por meses.
Também há quem ainda não esteja totalmente convencido de que o crescimento africano será sustentável.
Para Elsie Kanza, chefe da seção africana do World Economic Forum, por exemplo, se os africanos não investirem em educação, se empenharem em reduzir rapidamente seu problema de falta de infraestrutura e implementarem uma mudança estrutural em sua economia, desenvolvendo manufaturas e setores mais complexos, o continente pode acabar desacelerando.
O professor José Flávio Sombra Saraiva, Professor de Relações internacionais da Universidade de Brasília (UNB) especialista em relações com a África, concorda: “As perspectivas para a região são boas, mas para garantir a sustentabilidade desse crescimento são necessárias muitas reformas e esforços para que toda a população se beneficie dessa nova onda de investimentos,” disse ele à BBC Brasil.
No caso de um arrefecimento da expansão africana, não há como negar que muitas empresas e investidores teriam de rever seus planos – inclusive brasileiros.
- O risco sempre existe, mas podemos mitigá-lo e trabalhar com ele – arrisca Cordeiro.