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Cultura na avenida

CBCA - 04 de julho de 2018 2665 Visualizações
Cultura na avenida
A transparência da fachada e a forma peculiar e franca como se integra ao entorno da Avenida Paulista expressam a contemporaneidade da proposta do Instituto e do projeto arquitetônico da sua sede
AINDA COM AS PORTAS ENTREABERTAS, em 2017, a nova sede do Instituto Moreira Salles, em São Paulo, já faturava o prêmio de melhor projeto arquitetônico da Associação Paulista dos Críticos de Artes. O desenho não se impunha pela opulência, mas por sua leveza; não pela expressividade maciça e impenetrável, mas pela transparência e clara integração com seu contexto. E para viabilizar o novo espaço de cultura em um dos endereços que apresenta maior escassez de terrenos amplos na cidade – a Avenida Paulista –, a tecnologia construtiva baseada na estrutura em aço foi decisiva.
Em 2011, o Instituto organizou um concurso entre escritórios de arquitetura do país para selecionar o projeto que melhor traduziria os diversos itens do programa de necessidades presentes no edital. A decisão de transferir a sede do Rio de Janeiro para São Paulo tinha o objetivo de conferir visibilidade internacional ao Instituto, algo à altura do acervo que abrange mais de 200 anos de fotografia, iconografia, literatura e música brasileira. A ideia era, ainda, ampliar consideravelmente o espaço para que a instituição oferecesse programação vasta e diversificada, e recebesse visitação intensa.
“Formulamos uma estratégia principal, que era distribuir o fluxo de visitantes a partir do centro do prédio, 15 m acima do nível do solo, já que não tínhamos disponível um espaço fluido como o de outras casas de cultura”, conta Vinicius Andrade, sócio diretor do escritório Andrade Morettin Arquitetos, que venceu o concurso. A estruturação metálica figurava como eixo central da proposta. “O aço é sinônimo de racionalidade. O sistema permite melhor controle dos processos e a expressão plástica do projeto. Automaticamente, quando pensamos em uma obra racional, leve e com ganhos em altura, o aço é a opção natural.”
Assim, a estrutura metálica primária, que consumiu 400 toneladas de aço, dispôs nove pavimentos acima do solo, em um percurso de visitação que se inicia por meio de duas escadas rolantes – a primeira com lance de 6 m de altura e a segunda, com 11 – que transportam o fluxo da entrada na Avenida Paulista à chamada Praça IMS, localizada no 5º pavimento. Trata-se de um grande vão de 41 m de comprimento e 4,6 m de pé-direito, que funciona como espécie de desdobramento da via pública, uma extensa e receptiva área de convivência, a partir da qual o fluxo de visitantes é distribuído pelo edifício.
Da praça, é possível ter contato físico com o entorno a partir de duas grandes aberturas nas estruturas frontal e traseira do edifício. É possível, inclusive, observar a grande caixa que guarda os três pavimentos superiores, dedicados à área de exposições, com capacidade de carga de 1.000 kg/m² (6º pavimento) e 600 kg/m² (7º e 8º pavimentos) e pé-direito de 4,4 m cada um. Nos três pavimentos abaixo da praça, ficam a biblioteca, as salas de aula e o cineteatro. O último andar comporta o setor administrativo do Instituto.
Integração urbana
A fachada do edifício, desenvolvida com consultoria especializada da empresa norte-americana Front, materializa claramente o propósito de uma instituição que busca integração com o contexto da cidade, sintonizada com a contemporaneidade. O fechamento da estrutura consiste em uma “pele” de vidro – duplo laminado insulado, tipo extra clear –, que recobre todo o edifício como um véu que, ao mesmo tempo, vela a instituição e revela os ambientes internos e externos. A estrutura da fachada é formada por perfis de aço, como grandes braços apoiados, de um lado, em uma das extremidades na estrutura metálica e, no outro, em tirantes fixados em elementos metálicos do tipo “gerberettes”. Assim, o vaivém da avenida se conecta visualmente ao fluxo interno da edificação, em movimento contínuo. A transparência do fechamento também revela toda a estrutura primária em aço. “Do ponto de vista da arquitetura, nos interessa a estrutura aparente para que ela passe a fazer parte do repertório plástico da construção”, esclarece Vinicius Andrade, para quem a expressão arquitetônica deve, acima de tudo, transmitir o espírito da instituição.
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Desafios construtivos
O terreno – um lote plano de 20 x 50 m, cercado por edifícios de 13 a 18 andares, no mais movimentado logradouro de uma das maiores metrópoles do mundo – impunha inúmeras limitações logísticas e construtivas, solucionadas a partir da opção pela estrutura em aço e do altíssimo nível de planejamento de todos os processos envolvidos. “A concepção estrutural foi feita a ‘quatro mãos’. Arquitetos e engenheiros mantiveram um diálogo constante na busca de soluções que atendessem tanto a arquitetura como a estrutura. O grande desafio foi implantar uma obra dessa magnitude em um lote bastante exíguo, em plena Avenida Paulista. Só uma solução com estrutura em aço poderia viabilizar a execução sem maiores surpresas”, analisa Yopanan Conrado Pereira Rebello, diretor técnico da empresa Ycon Engenharia, responsável pelo projeto estrutural. Foram desafios de diversas naturezas: na Avenida Paulista não é permitido o trânsito de caminhões durante o dia, e à noite há limitação na emissão de ruídos; um terreno próximo foi alugado para funcionar como entreposto; na obra, o canteiro migrava à medida que a construção avançava, ora para o vão no nível do solo, ora para o primeiro pavimento.
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Partindo da entrada na Avenida Paulista, escadas rolantes dão acesso ao 5º pavimento,onde está a Praça IMS, área de recepção e convivência, que distribui o fluxo de visitantes pelo edifício
O planejamento impactou, inclusive, em definições de arquitetura, pois impunha limites dimensionais às peças estruturais. “As estruturas vinham parcialmente executadas da fábrica. Lá, as ligações que permitiam soldas eram executadas. Ao chegarem no canteiro, as partes eram unidas com parafusos. É uma das grandes vantagens obtidas ao se utilizar a estrutura em aço, um sistema industrializado. Isso também possibilita agilizar a obra e economizar espaço no canteiro”, descreve o engenheiro estrutural do projeto. (A.L.)
Projeto arquitetônico: Andrade Morettin Arquitetos
Área construída: 8.662 m²
Aço empregado: ASTM A572 GR50 (ABNT NBR 7007 AR345); ASTM A572 GR60 (ABNT NBR 7007 AR415)
Volume de aço: 400 t
Projeto estrutural: Ycon Engenharia Projetos Estruturais
Fornecimento da estrutura de aço: Eleve Engenharia e Construções
Execução da obra: All’e Engenharia
Local: São Paulo, SP
Conclusão da obra: 2017