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Instituições de ensino estão empenhadas em desenvolver soluções para enfrentamento da pandemia

Assessoria - 30 de abril de 2020 1214 Visualizações
Instituições de ensino estão empenhadas em desenvolver soluções para enfrentamento da pandemia
Desde que o novo coronavírus começou a marcar presença no cotidiano brasileiro no primeiro trimestre de 2020, diversas lições que eram recomendadas tornaram-se urgentes. A começar pela valorização da Engenharia nacional e, consequentemente, a qualificação de fornecedores nacionais. Na prática, essa lição significaria não ficar refém de um único fornecedor global para suprir a demanda por equipamentos médicos. Ainda não se sabe se a lição surtirá efeito, mas as instituições de ensino relacionadas à Engenharia estão empenhadas em auxiliar os profissionais da saúde no enfrentamento da pandemia.

No Estado de São Paulo, a Escola Politécnica da USP encabeça pesquisas para três projetos de ventiladores pulmonares de baixo custo, combinando rápida fabricação e peças adquiridas nacionalmente. Em São Carlos, outros dois projetos estão em andamento. Na Escola de Engenharia (EESC), um pesquisador desenvolveu um ventilador pulmonar com tubos de PVC, peças fabricadas com impressão 3D, injeção de plástico ou com madeira do tipo MDF (Medium Density Fiberboard) e com válvulas para regulagem de pressão através de colunas de água. No Instituto de Física (IFSC), Vanderlei Bagnato coordenou a montagem de um respirador simplificado com misturador e ciclos controláveis.

Se um respirador hospitalar custa em torno de R$ 15 mil, a iniciativa da Poli possibilitará que o equipamento custe cerca de R$ 1 mil. “O projeto viabilizará a construção de alguns milhares de ventiladores a partir de três semanas e milhares produzidos em cinco semanas”, afirma o engenheiro Raul Gonzalez Lima, coordenador de um dos estudos da Poli.

Na Unicamp, a agência de inovação Inova abriu chamada para startups ligadas ao desenvolvimento ou adaptação de soluções nacionais para enfrentamento da COVID-19. A chamada tem como objetivo encontrar iniciativas de startups e conectá-las a entidades capazes de viabilizar os projetos nos campos de prevenção, tratamento, diagnóstico e nas mudanças de estilo de vida pessoal ou profissional.

“A inovação é essencial para continuarmos evoluindo enquanto sociedade, principalmente em momentos de crises como a que estamos enfrentando com essa pandemia. Por isso, é importante destacarmos as boas iniciativas inovadoras e realizar um esforço para conectar os atores que estão enfrentando problemas com os que estão desenvolvendo soluções”, explica o diretor-executivo da Inova Unicamp, professor Newton Frateschi.

Outra iniciativa da Unicamp é a composição de um força-tarefa contra a nova doença. Ao todo, 10 frentes estão trabalhando juntas no desenvolvido de soluções, agregando professores e alunos. Um dos destaques é a frente tecnológica, que busca sanar gargalos na fabricação, manutenção ou no desenvolvimento de dispositivos, seja por meio de modelagem computacional, uso de ferramentas de Inteligência artificial ou mesmo da confecção de aplicativos e plataformas.

Uma das pesquisadoras liderando essa empreitada é a professora de Engenharia Química da Unicamp, Marisa Beppu. “Temos iniciativas para ampliar a produção de itens usados por profissionais de saúde, como máscaras e outros equipamentos de proteção individual (EPI), e

para os respiradores. Identificamos que, mais proveitoso do que fabricar novos respiradores, é consertar o grande número de equipamentos sem uso em hospitais da região”, detalhou Beppu. Em recente entrevista coletiva promovida pela Unicamp, ela comentou que a frente tem feito o "matchmaking", a aproximação de equipes e pessoas físicas e jurídicas, visando o trabalho conjunto nas demandas do front de enfrentamento da COVID-19.

Nas instituições particulares, a Engenharia de modo geral também está empenhada no desenvolvimento de soluções para apoio ao sistema de saúde. No Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), cerca de 50 voluntários estão envolvidos em ações de tecnologia e saúde. São alunos dos cursos de Engenharia, professores, colaboradores do Inatel, além de diversos apoios de empresas do Vale da Eletrônica.

No início de abril, os colaboradores da Inatel finalizaram a primeira etapa de entrega de 80 máscaras de acrílico feitas com corte a laser no FABLAB da instituição, sendo que 40 foram encaminhadas para o Hospital Municipal Antônio Moreira da Costa e outras 40 para a rede pública do município. A ação também envolveu empresas do Vale da Eletrônica, que contribuíram com a doação do material necessário para a produção dos acessórios importantes para a proteção dos profissionais de saúde.

De acordo com Filipe Bueno, Coordenador do Centro de Pesquisas em Engenharia Biomédica do Inatel, foi levantado que alguns ventiladores pulmonares estão parados na região, tal como mapeado pela Unicamp. O grupo do Inatel atuará para reabilitar essas tecnologias para disponibilizá-las aos hospitais. “O que os outros países estão fazendo em termos de soluções tecnológicas, nós estamos aprendendo, aproveitando e adaptando à nossa realidade para viabilizar o que precisa ser feito de forma acessível para todos” comenta Bueno.

No curso de Engenharia Biomédica do Instituto, os alunos e dois professores desenvolveram um equipamento de baixo custo que permite a esterilização de ambientes e leitos hospitalares. A solução utiliza uma radiação ultravioleta capaz de exterminar vírus e bactérias e destaca-se como uma alternativa ao uso de álcool gel nesses ambientes. Com a aparência de um “rodo” articulado, a solução foi desenvolvida em menos de uma semana, considerando o levantamento de informações, pesquisa e construção do protótipo.

As definições de funcionamento ainda estão em estudo porque dependem do resultado da cultura de bactérias para saber o tempo exato de exposição à radiação. “Nós trabalhamos com quatro parâmetros: o tamanho, a distância, a intensidade e o tempo de exposição da radiação para a esterilização”, explica Bueno, que coordena o estudo juntamente com o professor Francisco Carvalho Costa, especialista em microbiologia, além de Angélica Braga, Thais Couto e Paulo Isaía, alunos de Engenharia Biomédica do Inatel. O custo da solução é de cerca de R$ 100. Após a conclusão da pesquisa, o Inatel estuda a possibilidade de produzir unidades do equipamento para hospitais.

O Centro de Transferência de Tecnologia Assistiva (CDTTA), por sua vez, também tem organizado ações para auxiliar o atendimento às pessoas infectadas. A equipe do CDTTA está trabalhando no desenvolvimento de ventiladores pulmonares compostos parcialmente por peças 3D e componentes eletrônicos de fácil acesso para serem finalizados até o final do mês, e para produção de materiais de proteção individual em impressão 3D e outras tecnologias que possam dar suporte ao trabalho dos profissionais da saúde.

Para completar a lista de iniciativas, o Instituto Mauá de Tecnologia (IMT) colocou à disposição a infraestrutura e os profissionais no desenvolvimento e produção de máscaras de proteção faciais e ventiladores mecânicos eficazes e de baixo custo. De acordo com o Engenheiro José Roberto Augusto de Campos, Diretor do Centro de Pesquisas do IMT, a instituição consegue produzir aproximadamente cinquenta máscaras por dia. De caráter multidisciplinar, o laboratório envolve alunos dos cursos de Engenharia de Controle e Automação, Engenharia Mecânica e Design.

“Inspirado num projeto americano, nossos alunos, ex-alunos e colaboradores estão trabalhando ininterruptamente na produção das máscaras, que são de baixo custo porque não há intermediários, ou seja, a matéria-prima é nossa. Utilizamos máquinas de corte a laser e, na parte da frente, polímero de alta qualidade, muito eficaz para evitar a propagação e contágio de doenças transmissíveis pela saliva e fluidos”, descreve. As máscaras serão enviadas, gratuitamente, às prefeituras de São Caetano, São Bernardo do Campo e Santo André, que farão a distribuição aos hospitais mais necessitados da região, além do Hospital das Clínicas.

Revestido de solidariedade e disposto a ajudar de forma voluntária, o engenheiro e ex-aluno do IMT, Marco Veiga, apresentou ao também engenheiro e responsável pelo FabLab Mauá, Rodrigo Mangoni Nicola, um protótipo de ventilador mecânico de baixo custo.

“A ideia inicial veio da Europa. Mas, o aperfeiçoamento e desenvolvimento, totalmente nacional, foi feito pelos alunos do FabLab Mauá. A comunidade médica de Santo André já aprovou o segundo protótipo. Porém, ele só pode ser utilizado em caso de extrema necessidade e de colapso do sistema de saúde, com a devida autorização e aprovação das autoridades competentes, como a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)”, diz Nicola. Com engajamento dos alunos de Engenharia de Automação e Controle no desenvolvimento desse protótipo, o engenheiro espera que o país se torne um exportador de tecnologias. “Com tudo o que está acontecendo, ficou mais nítida a importância das tecnologias nacionais. Já sentimos diversos efeitos negativos de ficar refém de um único fornecedor global”, analisa ele.

Para os alunos, Nicola explica que esse momento é um divisor de águas, com a rápida transformação das demandas da sociedade. “Eles devem se atentar nessas demandas que estão emergindo e em como desenvolver conhecimentos para atendê-las”, pondera o responsável pelo FabLab Mauá. Indo além do conhecimento técnico, Nicola chama a atenção para as habilidades de comunicação por parte dos Engenheiros e futuros Engenheiros. “A boa comunicação com todo o time é essencial para um trabalho seguro e confiável. Tudo isso que estamos fazendo mostra que a gestão e a execução precisam estar próximas, alinhadas, com espaço para conversa e troca de opiniões”, complementa.

Parceria IMT e Mercedes-Benz

Em busca de soluções para viabilizar a produção do ventilador em larga escala, o IMT acionou a montadora Mercedes-Benz, parceira da instituição em diversos projetos, para colaborar com a iniciativa. A Mercedes-Benz já colocou o seu parque industrial à disposição para produzir os ventiladores, caso haja necessidade.

“Temos as mentes pensantes, mas não a estrutura para produzir ventiladores mecânicos em grande quantidade. Desta forma, a parceria com a Mercedes-Benz pode ajudar efetivamente a equipar hospitais e salvar vidas. Vamos aguardar a conclusão das próximas etapas junto aos órgãos competentes e a necessidade real dessa alternativa. Enquanto isso, vamos continuar trabalhando em prol da sociedade”, finaliza Nicola.

Fontes: