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Economia e negócios

Capítulos 3

Capítulo III

Indústria e Comércio, Incubadoras, Tecnologia, Defesa e Comunicação

3.1. Sempre entre as top ten do Estado de São Paulo

Sempre entre as top ten do Estado de São Paulo 
 
Capital do Vale do Paraíba e maior polo aeroespacial do Hemisfério Sul, São José dos Campos tem ainda um parque fabril diversificado, com forte presença da indústria automotiva, farmacêutica e química e petroquímica. Logística bem resolvida, com acesso a estradas e portos, cria um círculo virtuoso para a região

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Sempre posicionada entre as dez principais economias do Estado de São Paulo, São José dos Campos é um ótimo exemplo de empreendedorismo. A história da industrialização da cidade confirma isso. Os primeiros passos da manufatura regional começam ainda na década de 1920, com a produção de laticínios. O salto qualitativo, no entanto, aconteceria 30 anos depois com a construção da Rodovia Presidente Dutra. Ela abriu as fronteiras e aproximou a cidade das duas maiores metrópoles brasileiras. Nessa mesma década, os fortes investimentos do Governo Federal no setor aeronáutico ampliaram o perfil atual da cidade de polo científico-tecnológico. Essas informações fazem parte do artigo Industrialização em São José dos Campos, SP: uma análise das atividades econômicas do Distrito Industrial das Chácaras Reunidas, de autoria de Gustavo Serra e Adriane de Souza. Na década de 1990, segundo eles, a cidade já tinha se consolidado como polo aeroespacial. 
Apesar da forte participação – tanto que a cidade é considerada o maior centro desse segmento, sendo o Brasil o maior polo do setor no Hemisfério Sul – os dados mais recentes da Prefeitura Municipal indicam que SJC concentraria cerca de 1.659 indústrias, com uma geração direta de empregos superior a 47,5 mil postos. Para a administração da cidade, cinco segmentos definem o setor industrial na cidade (veja box página 50). Outro destaque do ecossistema industrial é o distrito empresarial das Chácaras Reunidas, onde estão concentradas aproximadamente 100 empresas de pequeno e médio porte que atuam em diversos ramos produtivos, incluindo ao aeroespacial, siderurgia, produção de remédios e fabricação de máquinas e equipamentos. Em sua maioria, elas são fornecedoras de peças e equipamentos para as grandes indústrias locais.
Esse círculo virtuoso fica evidente no setor aeroespacial e de defesa, com maior destaque. É o caso da Embraer. Maior fabricante mundial de jatos comerciais, a empresa está na lista como sexta maior exportadora em 2014, de acordo com os dados do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio). A empresa tem quase 20 mil colaboradores no Brasil e no exterior e atende mais de 85 companhias aéreas de 58 países diferentes. Até dezembro de 2014, a companhia já tinha registrado um lucro de R$ 796 milhões. 
Os resultados da companhia no quarto trimestre de 2014 confirmam que ela atingiu sua meta de entregas para o ano, com 92 aeronaves comerciais e 116 executivas (92 jatos leves e 24 jatos grandes). A receita líquida, por sua vez, bateu a casa dos R$ 14,9 bilhões, sendo que as estimativas para 2015 preveem a entrega entre 95 e 100 jatos na aviação comercial e de outros 80 a 90 jatos no setor executivo. No segmento de Defesa e Segurança, onde também atua, a perspectiva é atingir uma receita entre US$ 1,1 bilhão e US$ 1,25 bilhão. Os valores são factíveis, ao consideramos que a empresa fechou o ano de 2014 com uma carteira de pedidos firmes 15% superior a de 2013. 
Os números sustentáveis da Embraer também reforçam o ecossistema da indústria aeroespacial em São José dos Campos. Um exemplo é a gigante norte-americana Boeing, que em 2014 inaugurou um centro de pesquisa e tecnologia no Parque Tecnológico da cidade. A instalação é o sexto desse tipo que a multinacional cria fora dos Estados Unidos e já funcionava, de forma diferenciada, desde 2013. De acordo com reportagem da revista Exame, a área construída do centro totaliza 450 metros quadrados e o foco de atuação são as pesquisas em biocombustíveis para aviação, gerenciamento de tráfego aéreo, sensoriamento remoto, metais e biomateriais avançados, tecnologias de apoio e serviços. Para a presidente da Boeing Brasil, Donna Hrinak, a iniciativa faz parte do compromisso de longo prazo que a companhia tem com o país.

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É importante observar que tanto a Boeing como a Embraer participam em conjunto com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) de um esforço para estudo de biocombustíveis para aviação e patrocinaram um estudo detalhado sobre o tema. As lacunas identificadas em vários workshops realizados entre 2012-14, serão estudados no centro específico em São José dos Campos. 
O mesmo ecossistema é observado no caso da Visiona, integradora de sistemas espaciais, joint venture entre a Embraer e a Telebras, empresa de economia mista controlada pelo Governo Federal e com atuação no mercado de telecomunicações. A companhia foi criada em 2012, dentro do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE) para atender aos objetivos e às diretrizes da Política Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (PNDAE) e da Estratégia Nacional de Defesa (END). O mix de profissionais atuantes engloba egressos da Embraer e do INPE, entre outros. O foco da Visiona é o projeto e produção do Satélite Geoestacionário de Comunicações e Defesa (SGDC) por meio do programa de absorção de tecnologia na França. 
Ainda na área espacial, outro destaque de SJC é a Equatorial Sistemas, pioneira em vários desenvolvimentos do setor, inclusive na criação de micropropulsores acionados por hidrazina. A empresa é forte parceira do INPE, tendo sido contratada pelo Instituto para executar estudos de engenharia de sistemas da nova geração dos satélites sino-brasileiros CBERS 3 & 4. Para esse projeto, a empresa entregou um relatório completo de viabilidade da nova missão que foi usado para gerar as especificações de sistema dos satélites CBERS 3 &4. Outro destaque da companhia é o próprio desenvolvimento do Sater-100, software de analise térmica, considerado o único no gênero. 
No segmento de defesa, a iniciativa da Thales – Omnisys, ao inaugurar um centro tecnológico dentro do Parque Tecnológico em março de 2015, só fortalece o perfil da cidade. A empresa junta-se, no município, a outras companhias do setor como a Avibrás , fundada em 1961 e com quatro instalações no Vale do Paraíba. Entre os produtos fabricados na região, os destaques são os sistemas de defesa ar-terra e terra-terra, veículos aéreos não tripulados e mísseis, com software e hardware desenvolvidos, projetados e integrados na própria empresa. A Mectron é outra que se junta ao time e seu foco são segmentos de alta tecnologia, em especial o de defesa. A companhia fabrica desde radares e subsistemas até mísseis e softwares de simulação. Um ponto importante da sua história é que ela foi criada por meio de uma associação de engenheiros vindos de outras empresas de SJC. A Amazul atua no Programa Nuclear da Marinha (PNM), do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB) e do Programa Nuclear Brasileiro (PNB) no desenvolvimento do submarino de propulsão nuclear, tecnologia que garante a soberania plena sobre as águas jurisdicionais brasileiras. Novamente, o círculo virtuoso acontece. 
A indústria automobilística é igualmente forte na cidade, com a presença de vários players internacionais. É o caso da Eaton, com a produção de válvulas de admissão e escape para motores de combustão interna. Criada em 1957, ela foi a primeira unidade fora dos Estados Unidos, com a meta de acompanhar o nascente segmento automobilístico brasileiro. Já a General Motors possui um complexo industrial na cidade e também é veterana (1959), tendo fabricado o primeiro motor Chevrolet no país. Também possui uma planta CKD, considerada a única no Brasil para despacho de veículos completamente desmontados para exportações. Os exemplos continuam com a Haldex, especializada em produtos de freio e suspensão, e a Peter Hannifin, fabricante de tecnologias e sistemas de movimento e controle, que fornece soluções de engenharia de precisão para mercados móveis, industriais e aeroespaciais.
A diversificação industrial também acontece no setor de telecomunicações, onde gigantes como a Ericsson e a Huber Suhner ganham espaço. A primeira tem fábrica e centro de treinamento em SJC e tem se destacado como fornecedora global em redes de telecomunicações. Já a Huber Suhner desenvolve e fabrica componentes e soluções de sistema para transporte elétrico e óptico de dados e energia. A empresa atende a clientes dos mercados de comunicação, de transporte e industrial com cabos, conectores, sistemas de cabos, antenas e outros componentes passivos. A brasileira Amplimatic faz parte do grupo dos veteranos, com operação desde 1964. Entre seus produtos estão os cabos coaxiais para uso em redes de TV por assinatura e em circuitos fechados de TV, entre outros segmentos. A Eltek Valere, multinacional com atuação nos mercados de telecomunicações e industrial, é uma presença recente, tendo se transferido de Guarulhos para São José dos Campos em 2011. A empresa localiza-se no distrito industrial Chácaras Reunidas, confirmando a vocação do local como atrativo para o setor industrial. 
Também forte são as áreas química e farmacêutica. A Johnson & Johnson, por exemplo, possui nada menos do que 11 fábricas em SJC, o que significa o maior complexo industrial da multinacional no mundo. A Mexichem, um dos gigantes da química e petroquímica mundiais, tem na cidade uma de suas nove unidades de produção. A Monsanto é outra integrante desse grupo e a fábrica de São José dos Campos, inaugurada em 1976, é responsável pela produção dos herbicidas da família Roundup, voltada ao mercado florestal. A italiana Radicifibras entrou na cidade por meio da aquisição do controle da Unidade Acrílico de São José dos Campos - Crylor, líder desse mercado no Brasil. 
Na área eletro-eletrônica, a presença de empresas como Hitachi Ar Condicionado e Panasonic estão entre os destaques. O segmento metalúrgico conta com companhias do porte da Gerdau e  logístico com a Creagea. Para fechar o circuito, a Refinaria Henrique Lage (Revap), da Petrobras, reforça a pujança econômica de SJC. Inaugurada em 1980, ela controla o Terminal do Vale do Paraíba (Tevap), composto por plataformas de carregamento de caminhões tanques. E está interligada aos terminais de Guarulhos, Guararema e São Sebastião. Trata-se da terceira maior refinaria do país, com capacidade para processar 40 mil m³/d (252.000 barris/dia), equivalente a 14% da produção nacional de derivados de petróleo. Mais importante ainda: a Revap atende todo Vale do Paraíba, Litoral Norte do Estado de São Paulo, Sul de Minas Gerais, Grande São Paulo, Centro-Oeste do Brasil e Sul do Rio de Janeiro. 
 
Comércio diversificado atrai consumidores, inclusive do Sul de Minas

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De acordo com o presidente da Associação Comercial e Industrial de São José dos Campos (ACI), Felipe Cury, desde a década de 1960, a cidade desenvolveu-se e se destacou principalmente pelo parque industrial. “Até os anos 1970, a maior fatia do bolo socioeconômico da cidade contemplava a indústria, com 51%, seguido pela área do comércio, com uma fatia bem menor e, por fim, pelo segmento de prestação de serviços”.
Como o tempo, segundo ele, o comércio começou a crescer, pois São José tornou-se um polo regional. Grande parte dos habitantes de outras cidades do Vale do Paraíba, do Sul de Minas Gerais e do norte do Rio de Janeiro passaram a fazer suas compras na cidade. Esse crescimento também propiciou o desenvolvimento da área de serviços. O município sempre teve uma característica forte de empreendedorismo porque, no passado, muitos funcionários que saíram das indústrias e que receberam indenizações passaram a investir em seus próprios negócios – deixando de serem empregados para se tornarem empreendedores.
O dirigente lembra que São José tem um setor muito forte que é o de desenvolvimento tecnológico: “A cidade tornou-se o epicentro da ciência aeroespacial, de todo o hemisfério sul. Temos aqui uma das cinco maiores fábricas de aviões do mundo, a Embraer, que é uma empresa-âncora e que tem gravitando no seu entorno muitas empresas-satélites, gerando grande quantidade de empregos e aprimorando, cada vez mais, o setor de aeropeças”.
“Tivemos também o desenvolvimento muito acentuado da indústria eletroeletrônica”, diz ele. “São José chegou a responder por um terço do volume exportado pelo Estado de São Paulo. Pode-se afirmar, entretanto, que esse êxito não reflete somente os resultados da Embraer, porque o que a empresa aeroespacial exporta corresponde a apenas 26% de tudo o que o município comercializa”, avalia. De acordo com Cury, o restante advém principalmente de produtos eletroeletrônicos, químicos e petroquímicos. “Os produtos que SJC lança ao mundo são muito convenientes ao Brasil, porque possuem alto valor agregado e muita tecnologia incorporada. Nós não exportamos commodities”, completa.
Para ele, setor comercial está consolidado na cidade, tendo havido uma proliferação de supermercados e shoppings centers. Hoje, são cinco grandes shoppings e muitos supermercados de marcas internacionais funcionando “a pleno vapor”. Ao mesmo tempo, o comércio de rua joseense também está se desenvolvendo plenamente. 

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O município de São José dos Campos tem, como vantagem, a oferta de mão de obra altamente capacitada, pois está equipado com boas escolas formadoras de profissionais de alta qualidade. Nesse sentido, a cidade tem condições de atrair empresas de tecnologia avançada, de última geração. Além disso, a cidade está localizada numa região privilegiada e estratégica, que tem ótima acessibilidade e logística extremamente favorecida. 
“O porto de São Sebastião está a poucos quilômetros e tem a perspectiva de crescer muito, até porque o porto de Santos já está saturado. Temos a Via Dutra, que melhorou muito de uns tempos para cá”, argumenta o presidente da ACI. “E para que atinjamos o status de intermodalidade de transportes, para o qual temos vocação, precisaríamos que o aeroporto passasse a recebe mais aviões cargueiros e que as ferrovias fossem realmente retomadas”, finaliza.