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Entrevista com Benjamin Sicsú, vice-presidente da Samsung

Janaina Cavalli, do diário Catarinense - 17 de julho de 2013 2930 Visualizações
Entrevista com Benjamin Sicsú, vice-presidente da Samsung
 
Marroquino naturalizado no Brasil, Benjamin Benzaquen Sicsú é vice-presidente de Novos Negócios da Samsung América Latina. Na palestra desta quinta-feira (18) no 1o Seminário Nacional de Incentivo à Inovação, ele vai falar sobre a importância da área de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Em entrevista ao DC por telefone, Sicsú destacou o papel da educação formal na cultura de inovação do setor produtivo.
Janaina Cavalli — As empresas brasileiras acordaram para a importância da inovação?
Benjamin Sicsú — Nós ainda estamos em uma fase que podemos chamar de conscientização, porque o nível de educação no Brasil é baixo. E o melhor instrumento para a inovação é a educação, em qualidade e quantidade. Hoje, as pessoas estão se informando e tentam dominar o assunto, mas não há uma mobilização nacional sobre o tema. Houve, sim, uma série de movimentos que geraram predisposição ao investimento, assim como regiões e empresas que estão em uma fase avançada de investimentos em inovação, como a Embraer e o polo metalmecânico de Santa Catarina, com o bom exemplo da Embraco, da Whirlpool.
JC — Quais as dificuldades para os investimentos em inovação no Brasil a partir dos incentivos públicos?
Sicsú — Acho que as dificuldades para os empresários não estão em entender os mecanismos financeiros, mas em um nível conceitual. Se tivéssemos uma melhoria na educação, a inovação brotaria espontaneamente. Além disso, vejo que o grande parque das médias empresas já domina o que são esses incentivos públicos, ao mesmo tempo que os sistemas Sebrae e Senai orientam um volume grande de pequenas empresas.
JC — Como as empresas podem suprir essa defasagem na educação brasileira?
Sicsú — Um treinamento de recursos humanos apenas contorna o problema. A empresa não consegue oferecer o que a educação formal pode entregar. Mas é claro que há opções de convênios com universidades, pagar especializações e cursos de mestrado, renovando essa capacitação profissional. É interessante perceber que aqui no Brasil as empresas precisam receber estímulos para inovarem. E, se necessitam de incentivo, é porque não têm a intenção natural de buscar a novidade.
JC — As grandes empresas inovadoras nacionais investem o suficiente na área para serem competitivas em relação às companhias globais?
Sicsú — Por uma série de circunstâncias formam-se exemplos no Brasil de empresas acima da média, que superam as dificuldades. Aqui, temos 10 ou 15 exemplos, nos quais a Whirlpool se encaixa. Lembro que a Embraco já era uma companhia inovadora nos anos 1970. E para essas empresas que querem competir no mercado internacional, é preciso inovar sempre, lançar um novo produto a todo momento. É uma necessidade vital. No entanto, em nível industrial, o país está pouco inserido no mercado global. São sempre os mesmos exemplos que nos representam lá fora. E este é um novo desafio.
JC — A inovação já foi capaz de representar uma virada no desempenho da Samsung? 
Sicsú — A Samsung começou fazendo o comércio de açúcar e cereais entre a China e o Japão. E em 1956, logo depois da guerra da Coreia, a empresa pediu empréstimo ao governo para mandar uma série de engenheiros coreanos à Europa, onde fariam mestrado, doutorado e voltariam para a Coreia atuando no desenvolvimento do rádio a válvula. Foi daí que surgiu a líder mundial em eletrônicos. É preciso levar em consideração que a empresa saiu de um país obcecado pela educação. Depois da guerra, os salários mais altos eram os dos professores primários, e quem não trabalhava na família tinha a obrigação de ajudar as crianças nos estudos. Os profissionais da empresa desenvolveram essa visão empreendedora, ávida por novidade.
JC — O Brasil oferece alguma dificuldade extra para investir e crescer, como a burocracia, em relação a outros países da América Latina?
Sicsú — O nosso papel não é reclamar, mas superar dificuldades e dar sugestões para melhorar as coisas. O país é assim e quem opta por investir aqui tem que reconhecer a realidade e ajudar a superá-la. Não concordo com a política de ficar apontando os erros. Isto não resolve nada. O que dá para fazer é trabalhar muito para superar as dificuldades e ajudar o Brasil a se desenvolver e o mercado a crescer. Com o mercado mais promissor, obviamente estaremos vendendo mais.