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Engenharia da grande escala arquitetônica

cbca-acobrasil.org.br - 13 de abril de 2015 3331 Visualizações
 Engenharia da grande escala arquitetônica
A localização do complexo do Cais das Artes na enseada do Suá, junto à extremidade atlântica da bacia de Vitória - que separa a capital capixaba da vizinha Vila Velha -, é um aspecto valorizado pelo projeto de Paulo Mendes da Rocha em conjunto com o escritório Metro Arquitetos. Do programa cultural, os autores depreenderam a criação de três edificações: a expositiva, uma construção com área de projeção de cerca de 150 metros de comprimento por 25 metros de largura, junto à frente d’água; o anexo a ela conectado, um edifício com planta quadrada (23 metros de lado); e, na extremidade oposta ao anexo, o teatro, um bloco com projeção de 69 x 69 metros cujo passeio térreo invade o mar.
Assim como o teatro, embora de forma mais marcante por causa das suas grandes dimensões e posicionamento, o museu é uma construção elevada do solo - cerca de três metros nas extremidades longitudinais e até 11,50 metros sob o vidro de maior intensão, que fornece luz indireta para as salas expositivas. Configura-se, assim, o térreo livre do complexo, que é uma grande praça pública aberta para o mar.
Apenas três duplas de pilares, afastados 55 metros entre si e com balanço longitudinal de 20 metros nas pontas, sustentam a construção pavilhonar do museu, que, exceto no térreo e nas aberturas diminutas das fachadas, é fechado para o exterior. Os pilares recebem os esforços provenientes das duas vigas de borda das fachadas norte e sul (as longituginais), que, com sete metros de altura e constituídas por concreto protendido, sustentam, os pórticos metálicos invertidos posicionados sob elas. É nessa gaiola de metal que estão fixados os painéis pré-fabricados de concreto que vedam a edificação e inseridas as lajes steel deck.
 
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O projeto estrutural do museu, assim, é um misto de metálica e concreto, material pré fabricado, moldado in loco, protendido e, ainda, lajes mistas. Destaque para a transição, que ocorre no térreo, da seção retangular para a circular dos pilares próximos às pontas leste e oeste do edifício. Na fresta entre eles, há um mecanismo para a absorção dos movimentos de deslizamento do volume suspenso, a exemplo do que ocorre com pilares de pontes.
Os pisos inclinados de vidro, localizados junto às prumadas de circulação vertical, irão fornecer luz natural indireta para as salas expositivas e propiciarão ainda, com suas aberturas basculantes eletrificadas, a movimentação de obras artísticas de maior porte para o interior da edificação.
Apesar da dimensão monumental do museu - 150 metros de comprimento, similar ao Museu dos Coches, em Lisboa, projeto de Paulo Mendes da Rocha com Ricardo Bak Gordon e MMBB Arquitetos -, sua configuração interna é qualificada pela interação de vazios que setorizam áreas expositivas independentes, com tamanhos e alturas distintas.
Também a exemplo do museu lisboeta, os interiores expositivos do Cais das Artes serão revestidos por chapa de gesso acartonado, com pintura branca, de modo a se equacionar visualmente a diversidade estrutural e de organização dos espaços. O resultado deverá ser particularmente interessante no terceiro pavimento, onde se interligam na mesma cota as várias salas de exposição, assim como no vazio central do segundo pavimento, de onde se poderá avistar a luz indireta proveniente do piso inferior inclinado. Deste espaço etéreo é que partirá a rampa externa, vedada por volume de concreto sobressalente à fachada sul. Voltado para o mar, o passeio suspenso possibilitará visão controlada do mar, enquadrada pelas contínuas frestas horizontais projetadas pelos arquitetos. Já a biblioteca e uma das salas expositivas do terceiro pavimento, posicionadas respectivamente nas extremidades leste e oeste do museu, terão ampla visualização do entorno - notadamente da ponte de ligação entre Vitória e Vila Velha.

Ficha Técnica
 
Cais das Artes
Local: Vitória, ES
Data do início do projeto 2007
Área do terreno: 26.500 m2
Área construída: 22.500 m2
Arquitetura: Paulo Mendes da Rocha e Metro Arquitetos - Martin Corullon, Gustavo Cedroni e Ana Ferrari (autores); Flavio Rogozinski, Márcia Terazaki, Miki Itabashi, Paloma Delgado e Paula Mendonça (equipe)
Cliente: Secretaria de Estado da Cultura
Estrutura: Kurkdjian & Fruchtengarten - Jorge Zaven Kurkdjian
Fotos Leonardo Finotti